13
Mar 09

 

Spike Lee fez, recentemente, alguns comentários infelizes relativamente a Eastwood, acusando-o de racismo por este não ter colocado soldados negros no seu épico de guerra Flags of Our Fathers - As Bandeiras dos Nossos Pais. Eastwood, de forma calma e serena, explicou a razão pela qual o fez. Apesar de vários soldados negros terem lutado no pacífico, nenhum teve importância especial na história que estava a contar. Mostrando todo o seu talento e graça, o veterano realizador foi ainda mais longe na refutação da ideia de Lee ao fazer um filme claramente anti-racismo.
 
Polémicas à parte, Gran Torino é um filme impressionante sobre amizade, arrependimento, racismo e heroísmo. Walt Kowalski (interpretado de forma extraordinária pelo próprio Eastwood), um amargo e idoso ex-veterano da guerra da Coreia, e Thao, um jovem Hmong seu vizinho, têm um primeiro contacto bastante negativo. A razão desse mau começo é o facto do jovem asiático tentar, por imposição de um gang, roubar o Ford Gran Torino do veterano herói de guerra. Esta tentativa sai gorada pois o jovem é apanhado em flagrante e acaba por fugir. A partir daqui inicia-se uma relação entre os dois (muito por incentivo da irmã mais velha de Thao) e com o tempo torna-se admirável como o preconceito e racismo de Kowalski se vão diluindo à medida que fortes laços de amizade se vão criando.
 
Uma das grandes proezas do filme é mostrar que há pessoas que não são intrinsecamente más e isso verifica-se nas duas personagens principais. Kowalski mostra que o seu racismo tem origem no medo do desconhecido ou de algo diferente e talvez na tentativa de justificar os seus actos passados com a ideia de que as pessoas que matou na guerra eram más. No caso de Thao, demonstra-se aqui que não é pelo facto de haver ovelhas negras numa raça que toda a gente dessa raça é má. As pressões para que ele tome o caminho errado são enormes, mas o jovem tenta resistir com todas as suas forças a esse caminho.
 
Eastwood mostra com este filme que continua no auge das suas capacidades. Apesar do seu percurso na história do cinema ser bem conhecido, não pára de nos surpreender, possuindo um ritmo e clarividência de ideias notável para uma pessoa da sua idade. Em 2006 filmou dois grandes filmes sobre a segunda guerra mundial, os dois lados de uma moeda, mostrando o lado americano num e o lado japonês noutro. Dois anos depois volta a fazer a mesma proeza, realizando dois filmes num ano, A Troca e Gran Torino, com o acréscimo de desempenhar o papel principal neste. E que desempenho brilhante este, constituindo uma fusão de inúmeras personagens por si interpretadas, desde Harry Callahan (A Fúria da Razão) a Frankie Dunn (Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos). Neste papel, Eastwood vai de cão danado (a comparação deve-se à sua antipatia e até mesmo aquele quase rosnar que vai fazendo sempre que está chateado) a um homem que procura redimir-se dos seus pecados, ao ajudar pessoas que pensou nunca olhar com respeito ou admiração.
 
Relativamente à parte mais técnica do filme, não vale muito a pena perder tempo a analisá-la. Eastwood não trás nada de novo nesse aspecto, sendo tudo realizado com a mestria que lhe conhecemos. O plano certo, a música certa, o ritmo certo, enfim, como estamos habituados, não há falhas nesse campo durante todo o filme. E no fim ainda somos brindados com uma música cantada pelo próprio Eastwood.
 
Gran Torino ocupa assim um lugar no topo da lista dos filmes realizados por Eastwood, além também um dos seus melhores desempenhos na sua longa carreira. A única coisa que tenho a apontar (não propriamente ao filme) é o facto de ter passado completamente despercebido nos Oscares. Caso tivesse sido nomeado, sei qual seria o filme pelo qual teria torcido.

 

publicado por Luís Costa às 19:38

5 comentários:
Obrigado pelos comentários. :)
Luís Costa a 18 de Março de 2009 às 14:27

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