O torture porn é uma onda de filmes de terror que muitos realizadores parecem ter apanhando. Caracterizado pelo seu sadismo, expresso quase sempre em cenas de tortura e mutilação, e muita nudez, este subgénero têm vindo a crescer dentro do terror. Filmes como Hostel e a saga Saw são o expoente comercial do género, mas existem filmes muito mais chocantes e cruéis que estes. França é um dos países de onde estas obras saiem em grande número e impetuosidade. Martyrs é uma dessas obras e pode dizer-se, de forma algo redutora, que é uma versão extrema de Hostel.
O filme começa logo a um ritmo alucinante, não perdendo tempo com apresentações calmas das personagens e história. As primeiras cenas são de uma jovem rapariga (Lucie), ferida e quase nua, a fugir de um armazém. Em menos de cinco minutos de filme, percebemos que tinha sido torturada sem qualquer razão aparente e que é enviada para um hospício, isolando-se de toda a gente, com excepção de Anna, uma rapariguita que começa a tornar-se sua amiga. A razão pela qual Anna está no hospício nunca é explicada e não se percebe sequer se está lá internada ou não. Anna, apesar de mais nova, começa a proteger Lucie, mas esta é perseguida por algo que aparenta ser a uma versão feminina do Gollum. A seguir a esse ataque a história avança quinze anos, e transporta-nos para a vingança que Lucie tenta levar a cabo de forma a finalmente poder descansar.
Começo por reafirmar o que disse anteriormente, este é um filme extremamente violento, mesmo para quem esteja habituado a alguns filmes do género. É muito gráfico, contendo dezenas de cenas de cortes e mortes às quais o realizador não nos poupa de observar o mais ínfimo pormenor. Por isso deixo o aviso, se são sensíveis, aluguem um qualquer filme PG-13 e vejam-no acompanhado de um belo balde de pipocas. Para os menos sensíveis, prepararem-se para um banho de sangue e esperem ficar numa posição algo desconfortável pelo que vão ver, pois certamente ficará na nossa mente por algum tempo.
O filme faz algo interessante, pega em duas coisas que fazem bastante furor no género, o torture porn e, algo que tem origem mais no cinema asiático, aquelas visões à la Ring - A Maldição, Ju-on: A Maldição ou Shutter. Esta mistura é eficiente na forma como provoca tipos de reacção diferentes no espectador, como repulsa e sobressalto. Por vezes, durante o filme, questionamo-nos se é necessária tanta violência para contar uma história, mas o cinema de terror não vive apenas da sua consistência narrativa, vive também (se não principalmente) da emoção, aflição, angústia e mal-estar que provoca e, se termos isso em conta, este filme atinge esse propósito na mouche.
Mas este é um filme que não vive somente do choque. É óbvio que quer ir um pouco mais longe. O seu último terço é muito mais calmo e em certos aspectos quase metafísico. Pode ser considerado um pouco pretensioso, mas o fim acabou por dar o equilíbrio que faltava. No meio de tanto gore foi bom refrear os ânimos e fazer um fim transcendente e altamente ambíguo.