Nos últimos quatro anos, David Cronenberg fez dois filmes (A History of Violence e Eastern Promisses) que foram, tanto a nível crítico, como a nível de bilheteira, grandes sucessos. O mesmo não se pode dizer do resto da sua obra que, apesar de ter um grupo de fãs incondicional, nunca conseguiu ser unânime. Isso deve-se ao facto do realizador canadiano ser bastante original e visceral nas suas obras, muitas vezes chocantes, o que poderá ter afastado um público mais sensível. Ao longo dos anos, Cronenberg foi enriquecendo a sua filmografia com obras que eram principalmente de terror, sendo caracterizadas por uma relação estrita entre o psicológico e o físico. Videodrome é uma dessas obras e um dos filmes de culto que catapultou Cronenberg para a fama.
Videodrome conta-nos a história de Max Renn (James Woods), um director de um canal por cabo (Civil Tv), e da sua entrada num mundo de alucinações e conspiração. Tudo começa com a captação de uma difusão de um canal que transmitia um programa snuff, onde as pessoas eram torturadas numa sala. O Civil Tv era conhecido pela sua programação repleta de sexo e violência e Max achou que um tipo de programa destes tinha audiência garantida no seu canal. Decidiu então investigar. Ao faze-lo acabou por descobrir um tipo de transmissão, de nome videodrome, que causava alucinações e servia de certa forma para controlar as pessoas.
Cronenberg baseou-se muito na obra de Marshall McLuhan, um filósofo canadiano que dedicou grande parte do seu trabalho à teoria dos media e a sua influência na sociedade. Refiro este facto apenas para compreendermos que este não é um simples filme de terror. Cronenberg inseriu muitos dos conceitos deste filósofo no filme e apesar de nem sempre serem claros e de podermos não os compreender, sabemos que eles estão lá.
Mas a mais-valia do filme está no facto deste não viver apenas desses conceitos e teorias. Esta é uma obra que vale por si só. E isto acontece pois Cronenberg faz um excelente trabalho em criar uma atmosfera tensa e surrealista, associada a uma história onde abundam conspirações e reviravoltas que nos deixam assombrados. O que também nos deixa bastante atónitos são os efeitos especiais usados para dar azo à imaginação incrível, e por vezes repugnante, de Cronenberg.
A dar corpo, literalmente, a esses efeitos está James Woods. Este era um papel bastante complicado de interpretar com autenticidade, mas Woods faz um excelente trabalho na composição da sua personagem. Deborah Harry, a vocalista da banda punk rock Blondie, faz o papel do interesse amoroso do protagonista e, ao contrário do que seria de esperar, também se safa muito bem no seu papel.
Isto pode soar a chavão, mas Videodrome não é um filme para toda a gente. É uma obra que tem momentos em que não sabemos muito bem o que está a acontecer e o facto de ser muito gráfico e surrealista irá, como já disse anteriormente, afastar algumas pessoas. Mas para quem está familiarizado com a obra de Cronenberg ou quer descobrir um realizador com um estilo muito próprio e subversivo, então esta é uma excelente oportunidade de o fazer.