Exit Trough the Gift Shop é um dos nomeados ao Oscar de melhor documentário deste ano. Por mais que se ignore os prémios atribuidos pela academia, a verdade é que por vezes estas nomeações servem como uma recomendação, uma excelente forma de conhecermos filmes que caso contrário nos passariam ao lado. Não tanto a nível dos nomeados para melhor filme, que são filmes badalados e portanto nomeações expectáveis, mas a nível de melhor documentário e melhor filme estrangeiro, onde existem sempre surpresas agradáveis.
Por isso, esta nomeação seria uma boa razão para querer ver esta obra. Mas a verdade é que o documentário estava sob o meu radar muito antes da nomeação sair. A explicação para essa detecção prematura é muito simples: Banksy.
Banksy é um dos artistas mais interessantes e subversivos dos últimos anos. Para além da sua forma de se expressar artisticamente ser fora do comum, tornou-se famoso atráves da sua “street art”, tem uma “pequena” particularidade que o distingue: a sua identidade é completamente desconhecida do grande público.
Com trabalhos espalhados pelas ruas de todo o mundo (inclusivé no célebre muro que separa israelitas de palestinianos, onde fez dos seus melhores trabalhos, como é demonstrado no filme) e exibições que atraem desde hipsters a coleccionadores de arte, é impressionante como alguém, com tantos holofotes direccionados para si, consegue manter a sua identidade secreta. Somando esta identidade misteriosa ao facto da sua arte invocar ideias contra a guerra, capitalismo, fascismo, imperialismo e o autoritarismo, parece que estamos perante um herói dos tempos modernos, uma personagem retirada do universo DC ou Marvel que em vez de super poderes usa a sua “super arte” para lutar contra os maiores vilões do nosso tempo.
Mas voltemos ao filme. Exit Trough... pode dividir-se facilmente em duas partes, e com isso não estou a dizer que este é um filme fragamentado, pois estas duas partes estão completamente interligadas. Por um lado temos um filme que nos apresenta a “Street Art” e aos seus melhores praticantes: Space Invader, Shepard Fairey e Banksy, entre outros. Por outro lado temos um filme sobre outra personagem inacreditável, o francês Thierry Guetta, que é nada mais nada menos que a razão da existência deste filme. Thierry é a força motriz da narrativa, é ele que a faz andar para a frente. É curioso assistir ao seu crescimento. Começa como alguém com uma obsessão, andar sempre com uma câmara a filmar tudo, e acaba por ser comparado a Banksy.
Thierry começa por acompanhar os artistas de rua, gosta de filmá-los e adora a adrenalina de estar a compactuar com uma actividade ilegal. As filmagens que ia reunindo seriam para fazer um filme (autointitula-se várias vezes como cineasta) mas não faz mais nada que empilhar cassetes sobre cassetes até que chega uma altura em que tem mesmo que fazer o filme e acaba por revelar o seu pouco talento para a realização. Julgo que é aqui que Banksy pega no filme e acaba por ser ele que o dirige. O que acontece depois é a criação de um monstro.
Thierry, incentivado por Banksy começa a criar a sua prórpia arte e faz uma mega exibição. Muda o seu nome para Mr. Brainwash e atinge um sucesso enorme. Mas esse sucesso é claramente obtido, não pelo seu talento, mas pelos contactos que possui, inspiração que obteve durante anos de convivência com os verdadeiros artistas e pelo “buzz” que criou à sua volta. Isso levanta uma questão muito pertinente: até que ponto alguém com o dinheiro suficiente e os conhecimentos certos não pode ser visto como um artista?
Introduzindo-nos, por um lado, a uma nova forma de arte que reflecte a época em que vivemos (é perecível, revolucionária e usa canais de comunicação como o vídeo e a internet para chegar às massas) e, por outro lado, mostrando-nos que temos que ser criteriosos na distinção entre o que é arte e o que é o espectáculo.
Exit Through… é assim um excelente documentário que merece ser visto por apreciadores de arte, seja ela de rua ou de sala.